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por Roque Alvísio Neumann

"A história registrava o ano de 1991. Em meados de 1988, retornei a Santa Cruz do Sul, após residir, durante 16 anos, na cidade de Arvorezinha, RS, exercendo a profissão de professor estadual, e passei a exercer minhas funções na 6ª Delegacia de Educação – 6ª DE. Em julho de 1991, fui cedido pelo Estado para atuar nas Faculdades Integradas de Santa Cruz do Sul – Fisc. Apresentei-me na Assessoria Técnica dessa Instituição, onde fui muito bem recebido pelas novas colegas, sem, no entanto, ter conhecimento do trabalho que deveria desenvolver na nova função. Lembro bem da primeira tarefa que me foi atribuída: trabalhar no projeto de reconhecimento do Curso de Química – Bacharelado. Foi meu primeiro susto na nova função: eu não tinha a menor ideia sobre o que significava “reconhecimento”. Aos poucos, fui me familiarizando com o trabalho na nova função, contando, especialmente, com a paciência das colegas da Assessoria.

Confesso que, na época, eu não tinha qualquer conhecimento técnico a respeito do ensino superior, pois havia atuado somente na educação básica. O importante é que eu sabia que poderia aprender. Assim, fui me inteirando das diversas fases vividas pelo ensino superior em Santa Cruz do Sul, uma vez que estive afastado por bastante tempo. Por meio de relatos, soube que o ensino superior foi oferecido por meio dos cursos de quatro faculdades isoladas, que, em 1980, foram transformadas em Faculdades Integradas – Fisc, o que foi considerado um grande passo para um dia obter o status de universidade. Soube, também, que, no início do ano de 1990, a Fisc havia encaminhado a Carta-Consulta ao Conselho Federal de Educação – CFE, com vistas à obtenção do título de universidade, e que, em fevereiro de 1991, esse documento foi acolhido pelo CFE para um acompanhamento durante dois anos à Instituição. Em vista disso, foi nomeada uma comissão para realizar esse acompanhamento: um representante do CFE, como presidente da comissão, e três docentes de universidades brasileiras.

Também, no primeiro semestre daquele ano, o Diretor-Geral da Fisc nomeou uma comissão interna de Universidade, que seria a responsável pelo cumprimento das tarefas, pela elaboração de textos e relatórios a serem solicitados pela comissão do CFE. Essa comissão, integrada por cinco docentes e pela coordenadora da Assessoria Técnica, recebera, da comissão do CFE, as orientações e o cronograma das tarefas a serem realizadas. Em julho, juntamente com outra colega técnica, também passei a integrar essa comissão. Tínhamos como meta a produção de dez relatórios parciais no período de acompanhamento, os quais seriam analisados e discutidos com a comissão do CFE, que faria visitas in loco à Fisc, de acordo com as necessidades. Assim, iniciou efetivamente o trabalho dessa comissão e, diga-se de passagem, foi muito trabalho realizado para atender às exigências da comissão do CFE.

Os relatórios foram sendo produzidos e a comissão do CFE realizava as visitas para a discussão e realização de ajustes, considerados necessários. Numa dessas visitas, aconteceu um fato pitoresco: o presidente da comissão do CFE se deu conta de que havia esquecido um documento de orientação, em Brasília. Na reunião do grupo, ele nos disse textualmente: “não se preocupem: eu ligo para meu filho, que está em Brasília, e ele nos encaminhará o documento por Fax”. Nós nos entreolhamos, meio assustados, quando o Diretor-Geral disse ao presidente da comissão: “nós não temos aparelho de Fax; mas, eu prometo que, na próxima visita da comissão, teremos esse equipamento”. E foi o que aconteceu. Que alívio!

Para que o programa de acompanhamento tivesse os resultados esperados, a comissão do CFE apresentou orientações que afetariam a estrutura de funcionamento da Fisc. Em vista disso, em julho de 1991, foi realizada a redepartamentalização, com a redução de 16 para 12 departamentos; no início de 1992, aconteceu a extinção das quatro faculdades, com a consequente criação das coordenações de cursos de graduação. A partir de março desse mesmo ano, a Fisc passaria a funcionar como se universidade fosse, com a criação de três Superintendências, semelhantes a futuras Pró-Reitorias: de ensino, de pesquisa e extensão e de administração. Além disso, foi instalado o Conselho de Administração da Fisc, em substituição ao Colegiado Superior, e foram criados os Colegiados de Cursos de Graduação.

É importante mencionar que, além dos relatórios a serem produzidos, havia todo o trabalho normal a ser realizado na Assessoria Técnica. Preciso registrar que, em abril de 1992, foi reconhecido o Curso de Química – Bacharelado, pois tive grande participação na elaboração do projeto – primeira tarefa recebida na Fisc.

Na medida em que o tempo passava, os relatórios parciais eram apresentados, discutidos e aprovados pela comissão do CFE, tudo realizado no embalo do sonho da conquista da Universidade. Em outubro de 1992, a comissão interna de Universidade concluíra o último relatório exigido: Avaliação dos Cursos de Graduação. Estávamos ansiosos para receber a notícia de que tínhamos atendido a todas as exigências legais para possibilitar a elaboração do relatório final, pela comissão do CFE, para a obtenção do título de Universidade. Por ocasião da visita da comissão do CFE, no segundo dia, ao iniciar a reunião, às oito horas, toda a nossa comissão se mostrava nervosa e ansiosa, ao mesmo tempo, aguardando o anúncio do presidente da comissão do CFE, que iniciou a reunião da seguinte forma: “Vocês são bons no que fazem, fizeram um excelente trabalho, cumpriram rigorosamente as exigências do Conselho Federal de Educação para a transformação da Fisc em Universidade. Mas, percebemos que vocês podem fazer ainda mais”. Essa parte final da fala caiu como uma bomba sobre o nosso grupo. O que o presidente estava querendo dizer, se já atendemos a todas as exigências? Entre uma brincadeira e outra, para disfarçar o nervosismo, o presidente da comissão explicou que o CFE estava estudando a exigência de mais um documento, que deveria ser elaborado pelas instituições que, a partir de agora, estivessem em processo de acompanhamento para a obtenção do título de universidade. Tratava-se do Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI. Enfatizou que, pelo fato de estarmos concluindo os demais relatórios parciais exigidos, seríamos a Instituição mais indicada para elaborar o primeiro PDI a ser apresentado no Brasil. Nesse momento, o Diretor-Geral, bastante nervoso, fez uma série de perguntas a respeito de como seria esse novo documento, qual seria o seu conteúdo, qual o prazo para a sua elaboração. Lembro bem que, naquele momento, o presidente da comissão do CFE, sentado na ponta da mesa, cruzou as pernas e, sobre elas, rascunhou alguns tópicos em um pedaço de papel, uma espécie de roteiro a ser seguido. Destacou que o CFE ainda estava estudando o formato final do documento e que novas orientações seriam encaminhadas.

Concluída a visita, restou-nos buscar subsídios para a formatação desse tal de PDI. Buscamos orientações com consultores em planejamento, de Porto Alegre, sem, no entanto, obter orientação conclusiva. Meio tateando no escuro, fomos realizando o trabalho, com a participação dos Departamentos e de outros órgãos internos, e, acompanhado de orientações eventuais do CFE, por telefone, o nosso PDI 1993-1997, o primeiro elaborado no Brasil, foi concluído e aprovado, contendo os seguintes tópicos: planejamento global; planejamento departamental; planejamento administrativo-gerencial; planejamento econômico-financeiro; e planejamento de avaliação institucional. Com certeza, esse foi o documento mais difícil que a comissão interna produziu, mas valeu a pena para o atingimento do principal objetivo. Restava a conclusão do Relatório Final, a ser assinado pelos integrantes da comissão do CFE, que haveria de conter os resultados dos trabalhos desenvolvidos pela comissão interna de Universidade e pela comissão do CFE, no período de fevereiro de 1991 a fevereiro de 1993.

Após a elaboração do Relatório Final, com as devidas assinaturas dos integrantes da comissão do CFE, foram providenciadas cópias para todos os Conselheiros do CFE, levadas a Brasília pelo Diretor-Geral da Fisc. A realização do sonho da Universidade estava cada vez mais próxima. Em maio de 1993, uma comitiva da Fisc dirigiu-se a Brasília para acompanhar a votação dos Conselheiros a respeito do processo de transformação da Fisc em Universidade. No dia 05 de maio, foi aprovado pelo CFE o Parecer nº 282, que deu origem à Portaria nº 880, de 23 de junho de 1993, assinada pelo Ministro da Educação, publicada no Diário Oficial da União, de 25 de junho de 1993, reconhecendo a Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC.

O sonho da Universidade se tornara realidade!"

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