“Imagens e Memórias” apresenta uma pequena mostra da vida, dos costumes, do trabalho e da arquitetura deixada pelos imigrantes
A Pinacoteca da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) abre nesta sexta-feira, 5, às 18h30, a exposição “Imagens e Memórias” comemorativa à imigração alemã: 200 anos no Estado e 175 anos em Santa Cruz do Sul. Entre 24 telas da Pinacoteca e 34 fotografias do Centro de Documentação Unisc (Cedoc), o público poderá prestigiar uma pequena mostra da vida, dos costumes, do trabalho e da arquitetura deixada pelos imigrantes. Haverá obras de artistas como Frantz Steimbacher, Regina Simonis, Traudi Meurer, Ilse O'Meagher, Gastão Tesche, entre outros.
Com organização e curadoria da Pinacoteca Unisc e do Cedoc, por meio dos professores Ronaldo Wink e José Antônio do Nascimento, a exposição é uma celebração das possibilidades presentes e futuras da preservação deste grande esforço, colaboração singular para a construção da identidade sócio-cultural do Estado e região. “Os tempos mudam, mas as lembranças permanecem através do legado artístico-cultural deixado pelos imigrantes alemães e seus descendentes. Uma contribuição fundamental para a constituição de uma sociedade plural que faz parte da história do Sul do Brasil. Nestas duas datas tão importantes para a comunidade, a lembrança vívida desse passado se faz presente através de imagens e muitas memórias que estarão na exposição”, ressalta o professor Ronaldo.
Estarão presentes no evento de lançamento o presidente da Comissão Oficial do Bicentenário da Imigração Alemã, Rafael Gessinger; o presidente da Comissão do Bicentenário da Imigração Alemã da Região de Santa Cruz do Sul, Paulo Trinks; a Presidente da Associação Pró-Cultura em Santa Cruz do Sul, Carolina Knies; coordenador do Núcleo de Arte e Cultura da Unisc e ex-reitor da Unisc, Luiz Augusto Costa a Campis; o secretário de Cultura de Santa Cruz do Sul, José Cláudio Barbosa dos Santos; assessora de Relações Interinstitucionais e ex-reitora da Unisc, Carmen Lúcia de Lima Helfer; o reitor da Unisc, Rafael Frederico Henn; além de outras autoridades.
Fotos: Bruna Lovato/Unisc
Santa Cruz do Sul: um município construído a partir de muitas mãos
O município de Santa Cruz do Sul tem muitas características que o torna conhecido em boa parte do país, inclusive em várias partes do mundo. Sua configuração atual é resultado de um processo histórico que envolveu milhares de pessoas, as quais não mediram esforços para criar condições de transformar uma região de densas florestas, inicialmente em um pequeno povoado e, depois, em um centro agrícola, industrial e urbano.
“O conhecimento sobre a história de um determinado lugar pode ser construído a partir de vários documentos, dentre os quais, a imagem e, particularmente, a fotografia que tem sido acrescentada como uma fonte de primeira grandeza, pois além de permitir o conhecimento mais geral, possibilita a visualização dos hábitos e dos costumes e a compreensão da realidade que as pessoas têm ou tiveram. Enfim, permite a construção de uma identidade, com suas relações socioculturais e movimentos de auto afirmação nacional, cultural e religiosa, alinhando ou distanciando grupos em função de afinidades ou diversidades culturais”, exalta o professor José Antônio.
Os primeiros agentes dessa história
Em levantamento histórico feito pelo professor José Antônio, no lugar hoje conhecido e denominado como Linha Santa Cruz, vieram os imigrantes, no final da primavera de 1849, transportados de Rio Pardo, por carretas de duas rodas, chegando ao Faxinal de João Faria, próximo ao local de destino. Quase um ano após a chegada dos primeiros imigrantes, foi nomeado, em outubro de 1850, o primeiro administrador da Colônia, Evaristo Alves de Oliveira, o qual foi substituído, no ano seguinte, pelo engenheiro João Martin Buff, que residia em Rio Pardo. Os colonos ocuparam lotes e produziram. Mesmo assim, inicialmente, tiveram que comprar e pagar preços altos pelos gêneros de primeira necessidade, ainda produzidos insuficientemente.
A maioria dos imigrantes era de agricultores, mas também profissionais de ofícios diversos como ferreiros, serralheiros, fundidores, curtidores de couro, mecânicos, sapateiros, alfaiates, seleiros, marceneiros, moleiros, entre outros. “Eles resolveram partir para aventurar-se rumo ao desconhecido e a uma promessa de vida melhor, já que estavam passando por grandes dificuldades na terra natal. Enfrentaram as adversidades, desbravaram as matas, construíram moradias e se desenvolveram. Os pequenos povoados se transformaram em cidades, os caminhos abertos nas matas se tornaram estradas, os profissionais de ofícios principiaram as indústrias e as pequenas casas comerciais cresceram.”
Em 31 de março de 1877, a região foi elevada à categoria de Vila (Vila São João de Santa Cruz), ou seja, criação do novo município, denominado de São João de Santa Cruz, estabelecendo governo próprio, independente de Rio Pardo. Outra data importante para o crescimento regional foi que em 19 de novembro de 1905, o Presidente do Estado, Antônio Augusto Borges de Medeiros, inaugurou o prédio da Viação Férrea e o ramal ferroviário que foi estendido até Santa Cruz do Sul.
Por ocasião da instalação do município, foram eleitos para compor a primeira Câmara de Vereadores (na época chamada de Conselho), Joaquim José de Brito, Carlos Trein Filho, Roberto Jaeger, Germano Hentschke, Jorge Julio Eichenberg, José Lopes Simões e Pedro Werlang. Os eleitos tomaram posse no dia 28 de setembro de 1878, instalando oficialmente o novo município, que era composto por cerca de 10 mil habitantes.
“Os colonos construíram e propagaram uma auto imagem baseada na fé, na educação e no trabalho. Com seus valores éticos e morais, buscaram posições de liderança na região. Esse foi um elemento importante de contribuição dos imigrantes para a identidade regional que acabou interferindo em todo o Rio Grande do Sul e em outras partes do Brasil”, diz José Antônio.
O professor cita ainda o Kolonie (1891-1941), um jornal brasileiro impresso no idioma alemão e que circulava nas colônias trazendo informações de várias partes do mundo. “São memórias preservadas, as quais estão relacionadas às tradições e aos valores culturais que unem os grupos que possuem identidades e interesses em comum. Por isso, a necessidade de utilizar as memórias como uma fonte a ser explorada pela história. Portanto, vários foram os agentes da história de Santa Cruz do Sul, no presente e no passado. A contextualização sócio-histórica expressa parte da cultura dos povos exteriorizada através de seus costumes, habitação, monumentos, além de fatos sociais e políticos”, complementa.